domingo, 8 de novembro de 2009

Capítulo 1 - Cartas e Documentos em Grego

“Trocar tudo por um desejo de nada não é uma coisa boa. Melhor seria se eu tivesse pensado assim antes de abandonar tudo o que me disseram ser certo por ódio ao que chamamos de Sistema. Engraçado não é? Todos dizem que não gostam do sistema e que são contra e mais um monte de baboseiras. Bem, eu não gosto e simplesmente o abandonei com a ajuda de um violão, um Mustang 66, alguns trocados e charutos cubanos. Um erro leva o outro no caminho em que tomei. Eu poderia ter me envolvido com o tráfico, assassinatos, estupros e foi isso que eu fiz. Mas não tirem conclusões precipitadas sobre mim, eu não chegaria a esse nível tão baixo, apenas tentei combater esse tipo de coisa, só que em todos os casos eu levei uma surra e descobri que cabeludos barbados já não assustam mais ladrões armados. Isso não acontecia em quadrinhos da Marvel e a propósito, nunca deixe seu filho ler quadrinhos de heróis sem poderes que batem em todo mundo, eles podem virar algo parecido com isso que vos fala.”

Minha mente é um pé no saco! Fica com essas frescuras de tentar me dar lições de moral enquanto eu poderia sentir o vento e o aroma de ratos mortos no caminho para o bar do Joe. Não é um Saloon, muito menos um Pub, mas olha pra mim meu chapa, pareço poder freqüentar sequer um restaurante?

Chego ao Bar, estaciono meu Opala por perto. É isso mesmo que você ouviu. Meu Opala. Se eu mal posso comprar sabão para lavar minhas cuecas também não posso ter um Mustang 66.

Entro na espelunca do Joe, se é que isso chega a ser uma espelunca, e olho em volta (como se eu não viesse aqui todo dia) e vejo marcas de gordura do teto, graxa da mão dos borracheiros nos talheres e sangue no chão. Bem, esse sangue era do velho Bill que derrubou a minha cerveja, mas essa é outra história. Me aproximo do balcão e peço a Joe o de sempre. Ele me diz que acabou e com um tom grave e imponente eu berro “Como acabou a Breja?” é o jeito que meu tio de interior falava cerveja, e não me importa, eu queria um Jack Daniel’s, assim como eu queria uma Harley Davidson, um violão com todas as cordas, uma casa com tetos sem furos, um soco inglês, uma esposa sem bigode e um hotel na Califórnia.

“Desculpa-me Bull, mas acabou”. As palavras calmas do filho da puta me deixaram irritado e digo com todo o ódio do mundo “é melhor me trazer a minha breja Joe! Sabe porque me chamar de Bull Búfalo Head?”

“Não, por quê?”

O desgraçado me pegou. Eu não fazia idéia porque me chamavam assim.

“Cala a boca e traz a breja!”

“As coisas não funcionam assim por aqui Bull e você sabe disso! Ou pede outra coisa ou vai ter que se retirar!”

“e quem vai me tirar daqui?” Ouço sons obscuros como um raio passando pela porta atrás de mim. Eu escuto, analiso, olho e vejo dois moleques magrelos e fedorentos parados olhando pra mim.

“esses dois maricas vão vir me tirar daqui?”

[Um tempo depois]

“Quando eu vou ter minha alta, doutor?”

“Quando os ferimentos cicatrizarem Bull”

Bando de desgraçado! Porra, como é que eu ia saber que eram anões? A sinalização dessa cidade é uma merda!

“Porra doutor, larga a mão de ser bundão e me deixa sair logo dessa merda!”

Diante dos elogios que fiz ao seu consultório o doutor me mandou para o inferno.

“Certo Bull, vá para casa”

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